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Cangalha do Vento Por Pedro Marcelino


Foi prazerosa e gratificante a leitura do livro Cangalha do Vento, do amigo Luiz Eudes. Em primeiro lugar, porque fala das migrações, e estas comportam toda a dramaticidade da existência humana na Terra. É temática recorrente dos humanistas de qualquer estírpe e fonte inesgotável de inspiração de grandes mestres da escrita.
Assim, Eudes descreve o drama da partida do personagem Israel: “Algo novo nele latejava, de um ânimo tal que ele, que nunca saíra daquele pedaço de mundo, sentia poder ir a qualquer canto e conquistar uma vida digna com a força das mãos."
O desejo e a necessidade de ir não são maiores que de voltar. A perda da identidade, o medo de "cortar raízes" e "romper barreiras" assusta mais do que as vicissitudes e as desilusões com o “Eldorado". Mais do que outra coisa, João Paulo queria voltar e por uma razão especial:
"Seu filho seria um junquense, como ele e seu pai, todos descendentes de João da Cruz, que um dia aportou no Junco."
Se há seca e estiagem,  o contista vai nos dando conta dos acidentes geográficos, das plantações, dos banhos nos tanques, das brincadeiras, da festa da padroeira, dos bailes, dos inocentes namoros, da vida social e religiosa, de mortes e nascimentos, da política e da politicagem, do comércio, das "modernagens" e das noites estreladas que mostram um Junco vibrante, solidário, poético e cheio de vida.
Zé Grosso pergunta: "Ah, e o que o progresso pode trazer para este lugar?" A tensão entre o progresso e "Vidas Secas" é questão que está longe de encontrar soluções.
Nosso autor bem poderia ter transformado seu livro de contos num romance, tal o encadeamento entre um conto e outro que nos arranca lágrimas e risos e, em outros momentos, esperança e crença na vida.
Há poesia e denúncia, nessa importante obra: “Os versos enviam torpedos alegres e as rimas asfaltam estradas literárias". "Até cachorro de rico sente prazer em maltratar os pobres."
Leitura imperdível. Como toda grande obra,  Cangalha do Vento, de tão profundamente singular, torna-se universal.

Pedro Marcelino é bacharel em humanidades e cronista (autor dos livros O Que a Memória Guarda e Grandes Coisas).

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